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sábado, 25 de abril de 2015

As súplicas das Almas do Purgatório



Nas vossas generosidades não vos esqueçais de nos reservar um lugar, a nós, do Purgatório, vossos maridos e mulheres, vossos pais e filhos.
Vós todos, enfim, cristãos e cristãs fiéis, vós todos que nos amais, ouvi vosso bom coração e tende piedade de nós. Se duvidais que temos necessidade de ajuda, então, que falta de fé! Se credes que estamos em necessidade e não tendes cuidado, então, que falta de piedade!
Aquele que não tem piedade de nós, de quem pode ter piedade?
Se tendes piedade dos pobres, não há ninguém tão pobre como nós, que não temos um trapo para colocar nas costas.

Se vós tendes piedade dos cegos, não há ninguém tão cego como nós, emparedados num calabouço sombrio, sem outro raio de luz que a espera de um consolo.
Se vós tendes piedade dos coxos, não há maneta ou estropiado tão impotente como nós que não podemos dar um passo para sair do fogo e não temos nenhuma mão livre para nos defender o rosto contra as chamas. Numa palavra, se vós tendes piedade de qualquer pessoa que sofre, não encontrareis jamais sofrimento comparável ao nosso; o fogo que nos queima ultrapassa muito em violência todos os fogos que queimaram sobre a terra e o mais quente desses, se comparado com o nosso, não passa de um fogo fictício pintado sobre um muro.

Se achardes longas vossas noites de doentes, desejando o dia, enquanto desfilam as horas? nenhuma vos parecia menos longa do que cinco - experimentai pensar como é longa a noite das almas prisioneiras, noite sem sono e sem prazo em que se queima e se grelha num fogo sombrio, noite interminável que se prolonga por dias e semanas, e, para alguns dentre nós, vários anos seguidos.
Doentes, vós não cessais de vos virar e revirar sem que nenhuma parte do leito vos traga repouso. Nós estamos fechadas sobre o nosso leito de brasa, sem poder nem ao menos levantar a cabeça. Tendes junto de vós um médico, que, às vezes, vos alivia e vos cura. Nenhum remédio combate o nosso mal, nenhum bálsamo derrama seu frescor sobre as queimaduras de nossas almas.
Uma enfermeira fica de guarda à vossa cabeceira e esta afetuosa presença vos é um conforto. Nossos guardiões - Deus vos livre! - são os espíritos danados, inimigos sem piedade, carrascos sem entranhas, odiosos, invejosos, rancorosos. A companhia de tais carcereiros nos pesa mais do que o próprio cárcere. Sua presença nos é mais penosa do que as torturas que eles nos infligem sem parar, lacerando-nos e nos cortando da cabeça aos pés.

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